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Uso da TIR para avaliação de projetos

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Thiago da Luz

Corporate Finance Specialist

Se você está lendo esse texto, provavelmente, já fez ou já ouviu falar em análise de projetos. Até para aqueles que ainda não são familiares com o termo, com certeza, em algum momento, já se deparou com a questão: Qual a melhor alocação para o meu dinheiro?

Como os recursos disponíveis são escassos e as opções são diversas, é natural que se precise comparar as opções disponíveis de alguma forma. A comparação geralmente reside em comparar o valor investido, valor total, valor presente líquido (VPL) e a famosa Taxa Interna de Retorno (TIR) de cada opção.

Dessas opções, a TIR é um dos indicadores mais difundidos do mercado. Embora importante, deve ser utilizada com cuidado, pois seu uso assume algumas premissas que, se mal compreendidas, pode levar a decisões equivocadas.

Estrutura de projetos: Critérios de comparação

Quando queremos comparar projetos de investimentos distintos, devemos nos atentar a alguns detalhes sobre seu fluxo de caixa a fim de comparar medidas semelhantes. Questões como aporte inicial, exclusividade entre projetos, períodos de geração de caixa distintos, capacidade de reinvestimento e riscos específicos devem ser levados em conta ao comparar projetos.

Para ilustrar um caso de investimentos com aportes, prazos e capacidade de reinvestimento, suponha que existam duas oportunidades de investimento. A primeira opção consiste em emprestar apenas R$ 1,00 para um conhecido, o qual devolverá R$ 2,00 no dia seguinte. Já a segunda opção consiste no aporte de R$ 100,00 em um fundo de investimentos com retorno de 13% ao ano. A questionar qual das opções é a mais rentável, uma questão deve ser levada em conta: A opção 1 é replicável? Essa questão é importante, pois, com os mesmos R$ 100,00 o investidor poderá dobrar seu investimento em apenas UM DIA! Embora pareça fantástico, em um caso real, dificilmente este seria o caso.

Ao comparar projetos com estruturas distintas, o uso da TIR pode ser extremamente enganoso e prejudicial, mesmo em casos mais simples.

Problemas com a TIR:

Analistas, geralmente, interpretam a TIR como a taxa equivalente do retorno de um dado investimento. Nesse caso, apenas comparar taxas equivalentes seria o suficiente para analisar a viabilidade de um projeto e comparar entre opções. Entretanto, não é esse o real significado da TIR. A taxa interna de retorno somente mostra a taxa de desconto que deve ser utilizada para igualar o valor presente das saídas e entradas de caixa, de modo a zerar o VPL.

De fato, a TIR só será igual à taxa de retorno equivalente de um projeto quando a taxa de reinvestimento for igual à própria TIR, contudo, geralmente, esse não será o caso. Essa premissa, na prática, assume que, o fluxo de caixa intermediário, gerado no decorrer de um projeto, poderá ser investido em um investimento igualmente rentável.

Ainda assim, mesmo assumindo que seria possível reinvestir o caixa intermediário, outro igualmente rentável, dificilmente poderíamos assumir que o caixa do segundo investimento deveria ser levado em conta na viabilidade do primeiro projeto.

Para corrigir esse problema, a TIR Modificada (TIRM), pode ser empregada para trazer uma visão mais precisa da rentabilidade efetiva do projeto. A TIRM considera um retorno de reinvestimento diferente da TIR do projeto. Geralmente se assume o retorno do reinvestimento igual ao custo de capital do projeto, por considerar que o fluxo de caixa intermediário terá lucro econômico nulo.

A guia de ilustração, um projeto com custo de capital de 10%, foi avaliado com uma TIR de 29%. Todavia, considerando a TIRM com retorno de 10% (igual ao custo de capital), ao invés da TIR padrão que assume retorno na própria TIR, tem-se uma diferença de 52% entre os resultados. Indicando que o projeto seria supervalorizado, levando a conclusões equivocadas, como se pode observar na (ilustração 1).

Ilustração 1:

Modelagem comparando retorno do reinvestimento TIR vs Custo de Capital

Desta forma, ao considerar o custo de capital, a taxa de retorno equivalente (TIRM) cai drasticamente. Em uma empresa onde o critério de aceite de um projeto é uma TIR de 20%, o projeto que antes seria aprovado com rendimento esperado muito acima do mínimo, passa a não ser atrativo.

O que fazer?

A solução mais direta e fácil é abandonar o uso da TIR como critério de avaliação de Projetos. Entretanto, sabendo da sua vasta utilização, simplesmente desconsiderá-la pode não ser possível. Nesse caso, recomenda-se a utilização da TIRM como alternativa.

Outra opção é focar na utilização do VPL como métrica de decisão e comparação. Embora a utilização do VPL tenha suas limitações a depender da estrutura dos projetos analisados, seu uso é mais direto, menos sujeito a premissas ocultas e oblíquas que a TIR. Apesar de todo o exposto, é improvável que a TIR seja abandonada e pare de ser utilizada no mercado. Contudo, sua utilização deve ser mais cética e cuidadosa do que é geralmente aplicada.

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